O traumatismo
craniano-cerebral ou traumatismo cranioencefálico (TCE) constituí uma das
causas de óbitos e sequelas em pacientes politraumatizados. Os acidentes automobilísticos são responsáveis por metade dos casos deste problema,
associado ao consumo de bebidas alcoólicas, à imprudência do motorista e ao excesso de velocidade. Outras causas de traumatismo cranioencefálico são quedas
(21%), particularmente em crianças e idosos, assaltos e agressões (12%) e
causas relacionadas a desportos. (10%).
É a maior causa de
morte e incapacidade em adultos jovens, gerando enormes prejuízos socioeconômicos.
Infelizmente a estatística brasileira é falha, porém dados americanos estimam
uma incidência de aproximadamente 1,6 milhões de casos de TCE por ano,
resultando em 52.000 mortes e entre 70 e 90.000 pacientes sequelados.
Estima-se que, no Brasil,
a taxa de mortalidade por TCE seja no mínimo de 26,2 e no máximo de
39,3/100.000 habitantes, representando mais de 100.000 vítimas fatais por ano.
Qualidade
de atendimento = prevenção de lesões secundárias = melhor prognóstico;
5%
das vítimas morrem no local do atendimento.
Um dos principais
conceitos atuais sobre o TCE é que o dano neurológico não ocorre apenas no
momento do impacto, mas progride ao longo de dias e horas (lesão secundária). O
conhecimento dessa fisiopatologia foi responsável pela acentuada redução da
morbimortalidade desses pacientes ao longo desses 30 anos, a despeito da
elevada incidência desta forma de trauma. Esse conhecimento possibilitou ainda
o estabelecimento de protocolos sistematizados de atendimento e tratamento, que
devem ser conhecidos de todos os médicos, mesmo os nãos especialistas.
Relembrando a anatomia:
Após o impacto, o traumatismo crânio - encefálico
pode ser classificado em três categorias: leve, moderado e grave. No grau leve
o paciente pode apresentar-se consciente, sem quaisquer sinais ou sintomas, ou
confuso e levemente sonolento, porém despertando após estímulos apropriados.
Nos casos graves a vítima do traumatismo apresenta-se em coma, sem abertura
ocular. Os casos intermediários são classificados como moderados.
Lesões primárias:
Pelo impacto (gravidade da lesão), dois mecanismos:
1 - Traumatismo direto
- Sangramentos de couro cabeludo;
- Fraturas fechadas ou abertas ou afundamentos;
- Hematoma epidural;
- Contusões;
- Lacerações cerebrais.
2 - Ações de forças inerciais (Cisalhamento de
neurônios e vasos)
- Hematoma subdural;
- Hemorragia sub aracnóide;
- Concussão;
- Lesão axonal difusa;
- Ruptura da dura-máter.
Tipos específicos de traumatismo craniano
As lesões cerebrais são divididas em:
·
Fratura de crânio;
·
Lesão cerebral difusa;
·
Lesão focal;
·
Lesão penetrante;
·
Lesões de couro cabeludo.
1 - Fratura de Crânio
A
identificação é muito importante - possibilidade da presença ou desenvolvimento
de hemorragia intracraniana;
Paciente
deve ficar em observação.
Tipos:
- Fratura linear sem
afundamento;
- Afundamento craniano;
- Fratura de crânio aberta;
- Fratura de base do crânio.
1.1 - Fratura linear sem afundamento
- Não requer tratamento
específico;
- Observação se houver
suspeita de lesão cerebral;
- Fraturas que cruzem leito vascular ou suturas cranianas - possibilidade de hematoma epidural.
1.2 - Afundamento craniano
- Pode não ser emergência
cirúrgica, dependendo da lesão cerebral.
- Risco de sequelas graves e
crises convulsivas de difícil controle.
- Geralmente o tratamento é
cirúrgico, com retirada e elevação do fragmento ósseo.
1.3 - Fratura de crânio aberta
- Comunicação direta entre o
escalpe lacerado e a substância cerebral;
- Condição diagnosticada por
tecido cerebral visível ou perda de LCR (líquido cefalorraquidiano);
- Tratamento cirúrgico.
1.4 - Fratura de base de crânio
- Otoliquorréia;
- Rinoliquorréia;
- Equimose na região mastoidea
(sinal de Battle);
- Sangue na membrana timpânica
(hemotímpano);
- Equimose periorbitária
(olhos de guaxinim).
2 - Lesão Cerebral Difusa
Geralmente
produzida por rápidos movimentos da cabeça (aceleração e desaceleração).
2.1 - Concussão
- Distúrbio que não se associa
a lesão anatomopatológica;
- Perda rápida das funções
neurológicas, com possível confusão ou amnésia temporária;
- Perda temporária ou
prolongada de consciência;
- O paciente pode apresentar
cefaleia, náusea e vômitos, mas sem sinais de localização, devendo ficar
em observação até cessar a sintomatologia.
2.2 - Lesão Axonal Difusa
- Coma prolongado;
- Lesão de alta velocidade com
estiramento ou chacoalhamento do tecido cerebral;
- Mortalidade de 33%;
- Em casos mais graves, de
50%, geralmente por aumento da PIC ( Pressão Intra Craniana) secundária ao edema cerebral, causado
por mini hemorragias (petéquias) em substancia branca;
- Pacientes em coma –
diagnóstico com posturas de descerebração ou decorticação.
3 - Lesão Focal
As
lesões focais consistem em:
- Contusões;
- Hemorragias;
- Hematomas.
Normalmente
exigem tratamento cirúrgico.
3.1 - Contusão
- Única ou múltipla;
- Geralmente associada a uma
concussão;
- Caracteriza-se por longo
período de coma e confusão mental;
- Pode ocorrer na área de
impacto ou em áreas remotas (contragolpe);
- Lobos frontais e temporais
são os locais mais comuns desse tipo de lesão.
3.2 - Hemorragia Intracraniana
Classifica-se em meníngea e cerebral. Devido a grande variação de local, tamanho e rapidez de sangramento, o quadro clínico também é variável.
Classifica-se em meníngea e cerebral. Devido a grande variação de local, tamanho e rapidez de sangramento, o quadro clínico também é variável.
1- Hemorragia meníngea
- Subdivide-se conforme sua localização:
•
Hematoma epidural;
•
Hematoma subdural;
•
Hemorragia subaracnóide.
1.1 - Hematoma epidural
- Coleção de sangue entre a dura e o crânio;
- Lesão de uma artéria dural - artéria meníngea
média;
- Geralmente o tecido cerebral não é lesado;
- Evolução é rapidamente fatal;
- Lesão associada a fraturas lineares temporais
ou parietais.
- Sinais e sintomas:
•
Perda de consciência seguida de um período de
lucidez;
•
Perda progressiva da consciência;
•
Hemiparesia e Anisocoria;
Se
não tratado rapidamente pode evoluir para uma lesão secundária devida o aumento
da PIC.
1.2 - Hematoma subdural
- Mais comum que os hematomas
epidurais,
- Ocorre por rotura de veias
entre córtex e dura;
- A fratura de crânio está ou
não presente;
- Prognóstico melhora quanto
mais precoce a intervenção cirúrgica.
- A compressão cerebral lenta
pela expansão do hematoma causará sintomas dentro de poucas horas ou dias:
- Cefaleia;
- Irritabilidade;
- Vômitos;
- alteração
do nível de consciência;
- Anisocoria;
- alterações
sensitivas e motoras.
1.3 - Hemorragia Sub aracnóide
- Esse tipo de hemorragia leva
a um quadro de irritação meníngea – sangue no LCR (Líquido Céfalo Raquidiano);
- Paciente queixa-se de
cefaleia e/ou fotofobia;
- tratamento clínico.
- A perda sanguínea ocorre no
próprio tecido cerebral.
4 - Lesões Penetrantes
- Penetração de corpo estranho
intracraniano;
- Não deve ser removido no
local - só deve ser retirado em centro cirúrgico;
- Fixá-lo se for o caso, para
que ele não produza lesões secundárias no transporte.
- Ferimento por arma de fogo
- Quanto maior o calibre e a
velocidade do projétil, maior a probabilidade de lesões graves e até
letais.
- Cobrir a entrada e saída do
projétil com compressa esterilizada até o tratamento neurocirúrgico ser
providenciado.
- - Ferimento de Couro Cabeludo
- Apesar da aparência
dramática, o escalpe geralmente causa poucas complicações.
- A localização e o tipo de
lesão nos dão a noção de força e direção da energia transmitida.
Perda sanguínea:
- O sangramento por lesão de
couro cabeludo pode ser extenso e, especialmente em crianças, levar ao
choque hipovolêmico; em adultos, sempre procurar outra causa para o
choque.
- Localizar a lesão e parar o
sangramento por compressão; a grande maioria dos sangramentos é controlada
com aplicação de curativo compressivo.
Condutas
Inspeção da lesão:
- Avaliar a lesão para
detectar fratura de crânio, presença de material estranho abaixo da lesão
de couro cabeludo e perda de líquor.
- Avaliar a
gravidade: Anamnese + Exame físico.
- Trauma grave (TC e UTI são obrigatórios)
- Sinais neurológicos focais;
- Fraturas com afundamento de
crânio;
- Fraturas aberta;
- Lesões penetrantes;
- Glasgow < 10 sem causa
definida;
- Convulsões;
- Uso de drogas;
- Alterações da perfusão
cerebral;
- Fatores metabólicos.
Abordagem clínica
- Exame da cabeça;
- Deformidade, edema e dor á
palpação cervical a manter imobilização cervical;
- Lacerações e depressões em
couro cabeludo à investigação de ferimento penetrante, corpo estranho,
afundamento e lesões durais;
- Fraturas de base do crânio;
- Hemotímpano à fratura de
temporal;
- Fontanela abaulada à HIC;
- Padrão respiratório;
- Exame neurológico:
Escala de Coma de Glasgow
Avaliação Pupilar
Tratamento de emergência
- Transporte imediato com
aporte de oxigênio (a hipóxia agrava o edema cerebral);
- Cabeça elevada em 30°, o que
facilita o retorno venoso, atenuando o edema;
- Havendo ferimento, enfaixar
a cabeça, porém sem exercer pressão no curativo, pois em caso de fratura
de crânio, a compressão pode lesar o cérebro com fragmentos ósseos,
agravando o quadro;
- Evitar lesões secundárias,
através da otimização da oferta e da diminuição do consumo cerebral de
oxigênio;
- Manter vias aéreas pérvias;
- Manter normovolemia;
- Reposição deve ser feita
preferencialmente com cristalóides;
- Evitar utilização de soro
glicosado;
- Passagem de sonda vesical
para controle do balanço hídrico;
- Sedação;
- Monitorização da pressão
intracraniana (PIC), nos pacientes com traumas graves.
Prevenção
- Esportes e brincadeiras
- Capacetes para ciclismo,
skate, patins e hipismo;
- Superfícies lisas e
brinquedos com peso reduzido nos locais de recreação;
- - Quedas
- Colocação de redes e grades
nas janelas;
- Não utilizar andadores;
- Evitar lajes ou vãos livres
altos;
- Usar portões próximos às
escadas.
- - Veículos Automotores
- Capacetes para motociclista
e acompanhantes;
- Cinto de segurança em automóveis
e próprios para criança no banco traseiro;
- Airbag como equipamento
obrigatório;
- Prevenção e combate ao uso
de álcool e outras drogas.
Assistência de enfermagem
Nas primeiras 48 horas
pós TCE a equipe de enfermagem deve estar atenta ao escore de Glasgow, ao
padrão respiratório e aos níveis da PIC (normal menor 10 mmhg) já que uma elevação
da PIC a maior de 20 mmhg em um paciente em repouso, por mais do que alguns
minutos, está associada a um aumento significativo da mortalidade; essa atenção
da enfermagem permite intervir rapidamente, evitando complicações.
A nutrição enteral deve
ser iniciada após 48 horas de admissão na UTI, deve-se estar atento à presença
de ruído hidroaéreo (RHA) e distensão abdominal. Nos pacientes que apresentarem
fraturas de base de crânio, a sondagem nasogástrica ou enteral deve ser feita
por via oral e não via nasal, pois podem provocar infecções do tipo meningite e
lesões secundárias, para as aspirações deve ser usado o mesmo critério, não
realizar aspirações nasais nestes pacientes. Deve-se estar atento à prescrição
de soluções, visto que, infusão de soluções contendo dextrose, especialmente
dextrose a 5% e água, é contra indicada no tratamento agudo do paciente com
TCE, pois favorece o aparecimento de edema cerebral.
Podemos elencar os
seguintes diagnósticos de enfermagem para pacientes com comprometimento
neurológico e especificamente, para o paciente vítima traumatismo
crânio encefálico, são eles: capacidade adaptativa intracraniana diminuída;
risco de perfusão tissular ineficaz cerebral; padrão respiratório ineficaz;
risco de infecção, risco de aspiração, risco de integridade da pele
prejudicada; hipertermia; risco de constipação; nutrição desequilibrada: menos
do que as necessidades corporais e dor aguda.
Protocolo de avaliação
neurológica e os cuidados de enfermagem:
Manter vias aéreas
pérvias: quando necessária aspiração ora traqueal para manter boa oxigenação,
manter acesso venoso calibroso ou cateter venoso central, para quantificação da
volemia. Realizar balanço hídrico de 6 em 6 horas, imobilização da coluna até
descartar trauma raquimedular (colar cervical, prancha rígida e mobilização em
bloco), manutenção de pressão arterial média de 90 mmhg, passagem de sonda
nasogástrica para descompressão gástrica. Em caso de lesão facial ou trauma de
base de crânio (confirmado ou suspeita), é contraindicada a passagem
nasogástrica, devendo ser feita oro gástrica, sonda vesical de demora para
controle do balanço hídrico, controle de glicemia capilar na admissão e de 3/3
horas.
Se necessidade de bomba
de insulina, glicemia capilar de 1/1 hora, manter crânio alinhado e decúbito
elevado a 30 º, controle da temperatura (manter normotérmico). Se necessário:
utilizar antitérmicos ou hipotermia, atentar para crise convulsiva e utilizar
protetores nas laterais da cama. proteger os olhos entreabertos aplicando creme
protetor ocular (Epitezan®) na pálpebra inferior a cada oito horas, cuidados
com a pele evitando úlceras por pressão, profilaxia de trombose venosa profunda.
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Um grande afetuoso abraço e até a próxima postagem!
Fontes:
Marenza e Ribas (1994)
NICHOLAU, 1994, p.387.
http://www.fmanha.com.br/
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